Sem cardiologista na emergência da Santa Casa, postos improvisam UTI para cardíacos

Diana Gaúna, Pio Redondo

 

Sem encontrar vagas nos hospitais de Campo Grande, postos de saúde tiveram que improvisar UTIs (Unidade de Terapia Intensiva) para salvar pacientes cardíacos. No início do mês, três pessoas ficaram entubadas em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) aguardando liberação de vagas. A situação nos pronto socorros e pronto atendimentos dos hospitais conveniados com o SUS está cada dia mais crítica, depois que a Santa Casa parou de oferecer o serviço de cardiologia na emergência.

Depois de uma greve em 2012 e varias tentativas de negociações, há seis meses a Santa Casa não recebe os pacientes cardíacos no PS alegando falta de médicos. Desde dezembro de 2012, a Central de Regulação encaminha os doentes para Hospitais Universitário e Regional em Campo Grande. Contudo eles não têm estrutura para assumir a demanda do maior hospital do Estado, provocando uma situação caótica e expondo esses pacientes a risco de morte.

O caso atingiu um patamar tão grave que, nos últimos dias, pacientes atendidos na UPA Coronel Antonino, UPA Vila Almeida e UPA Universitário tiveram que ficar entubados nas unidades de saúde aguardando a liberação de vagas no HR ou HU.

A reportagem entrou em contato com o coordenador do Samu, Luiz Antônio Moreira da Costa, que confirmou a situação crítica dos cardíacos e informou que os pacientes neurológicos passam por situação semelhante.

“Ainda não tivemos registro de óbito, mas o atendimento é mais precário e a situação está um caos. Os hospitais recebem os pacientes, mas não têm vagas. O HR tem dia que fica com 22 pessoas onde cabem 15 e o HU não tem o que dizer, porque o PAM tem pouquíssimas vagas. Além dos cardíacos, os pacientes clínicos de neurologia também não estão sendo recebidos na Santa Casa”, contou Moreira.

Para o coordenador do Samu, além da contratação dos médicos por parte da Santa Casa, a finalização das obras do Pronto Atendimento do Regional – que já dura três anos, do hospital do Trauma e do Hospital Universitário – que desmoronou o gesso do teto antes da finalização, já desafogariam o atendimento e diminuiriam o risco de pessoas morrerem por falta de vagas.

HU e HR

A reportagem esteve no HU e no HR e comprovou sobrecarga de pacientes nas portas das emergências e a falta absoluta de espaço. Funcionários, que pediram para não serem identificados, contaram que pacientes que precisam estar com monitorização contínua, como monitores cardíacos e respiradores, ficam em macas e leitos simples.

“É um absurdo. Esses pacientes graves ficam em macas pelos corredores, sem monitores cardíacos e outros equipamentos e recebem atendimento do plantonista. Apenas se o caso for grave é que somos autorizados a chamar um cardiologista. Vai acabar morrendo gente se nada for feito”, contou um funcionário.

Santa Casa

Na Santa Casa, o coordenador da cardiologia, Valdir Salvi Júnior explicou que não há previsão de retomar os atendimentos porque estão sem médicos. O cardiologistas do PS, segundo Salvi, realizavam em média 600 atendimentos por mês.

“Hoje temos 9 cardiologistas que permaneceram no hospital e com esses profissionais não dá para fechar uma escalada completa de 24h, sete dias por semana. A nova direção publicou um edital de contratação, mas não estamos achando médicos que queiram vir pra cá. Então vamos ter que aguardar”, explicou Salvi Jr.

Sobre os atendimentos de neurologia da Santa Casa a reportagem apurou que os pacientes precisam ir para a emergência do HU e do HR para ser atendidos e apenas em caso de cirurgia eles são levados para a Santa Casa.

MPE

A reportagem entrou em contato com o MPE (Ministério Público Estadual), mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. Em agosto de 2012, o MPE precisou intervir para manter que o atendimento dos cardiologistas na Santa Casa. Os hospitais Regional e Universitário não estavam dando conta da demanda da Santa Casa, provocando um verdadeiro caos na saúde.

Uma reunião entre a então Junta Administrativa da Santa Casa – composta pelos secretário de Saúde Estadual e Municipal, CRM (Conselho Regional de Medicina) e médicos por fim a uma greve que durou cerca de um mês.

Contudo o acordo durou até dezebro de 2012, quando os 15 cardiologistas do Pronto Socorro deixaram seus postos de trabalho, depois de realizaram reivindicações por cerca de um ano por melhores salários e condições de trabalho.

Agora a cena se repete e o quadro tende a se tornar mais grave a cada dia que passa, com mortes iminentes, se nada for feito pelas autoridades responsáveis.