Maior deficiência na saúde está nas unidades básicas em Campo Grande

Fernanda Kintschner


 

A onda de protestos, que ocorre em Campo Grande e em todo o Brasil, tem como uma das principais reinvindicações a melhoria no setor da saúde pública. Os manifestantes pediram até mesmo o que chamaram de “padrão Fifa” para o Sistema Único de Saúde (SUS), referindo-se a um alto nível de investimentos para setor, como está sendo feito para a Copa do Mundo.

Mas afinal, qual é a principal reclamação? Para as entidades ligadas à saúde ouvidas peloMidiamax, os postos de saúde são os mais deficitários. Na visão do presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul (Sinmed), Marco Antônio Leite, é necessário investir tanto em infraestrutura, quanto em recursos humanos nos postos que atendem a demanda básica de saúde.

“Quando a pessoa chega lá no seu bairro tem uma dificuldade muito grande pra consultar e extrema para marcar exames. Às vezes demora seis meses ou um ano. Isso é um absurdo, isso não existe”, destacou o Marco.

Outra questão apontada pelo médico é que quando o clínico geral precisa encaminhar um paciente para consulta com alguma uma especialidade ele tem que cumprir um protocolo extenso de solicitação de exames. “Mas como fazer isso se demora tanto?”, indagou o presidente.

A falta de agilidade no atendimento básico faz com que as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) com atendimento 24 horas de urgência e emergência fiquem superlotados. “A falta de estruturas básicas acaba deixando o pronto socorro exaurido na sua capacidade de atendimento”, lamentou.

Opinião similar é a do presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM) Luis Henrique Mascarenhas Moreira, que afirma que as reinvindicações nos protestos são válidas quando se pensa que a disponibilização de recursos para a Saúde não é a mesma para setores com maior interesse político.

“Não tem essa vontade e intensidade na construção de novos hospitais e disponibilização de equipamentos para atender adequadamente como se tem para dar recursos a outros setores. Há defasagem de médicos, enfermeiros, farmacêuticos e a população percebeu que não há vontade de se resolver”, disse.

Para o médico é necessário investir em infraestrutura e em recursos humanos ao mesmo tempo, pois não é possível se obter bons resultados se os dois setores não apresentarem condições para tal.

Um plano de cargos e carreiras também é reivindicado pelos profissionais, que almejam que as gratificações sejam incorporadas no salário base. A média salarial para um médico que trabalha por 20 horas no setor público está em R$ 2.300, segundo o Sinmed.

Em Mato Grosso do Sul há quatro mil médicos, sendo que 64% deles estão na capital e 64,1% atuam no SUS, de acordo com pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM) que também aponta que o Estado ocupa o décimo sétimo lugar em números absolutos de médicos registrados em todo o país (388.015) e o décimo em termos proporcionais pelo número de habitantes.

Para a coordenadora do Conselho Municipal de Saúde, Giane França Alvarez, também é importante investir em políticas públicas. “Precisamos equipar os postos, contratar pessoal, mas as políticas públicas para o SUS é uma caminhada muito longa. A atenção básica é onde precisa mais e a principal reclamação é a falta de profissional”, lamentou.

Sandra Luges, diarista de 31 anos, usuária do posto do bairro Tiradentes reclama que para marcar consultas, na maioria das vezes, demora mais de um mês. “Tanto para marcar adulto quanto criança. Marquei há mais de um mês essa consulta de hoje”, lamentou, acompanhada de sua filha Mariana, de um ano.

Minamar Junior
 

Quanto à infraestrutura, só em Campo Grande, segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, há 28 Unidades Básicas de Saúde, outras 34 Unidades Básicas de Saúde da Família. Mais seis Policlínicas Odontológicas, cinco Centros de Atenção Psicossocial, seis Centros Regionais de Saúde com atendimento 24 horas e três Unidades de Pronto Atendimento. Além dos Hospitais Regional, Universitário e Santa Casa.