Fatalidade há 48 anos une cidade Paulista à Maracaju

 

 

RUA MARACAJU – Por que essa rua tem esse nome? Grande parte dos dracenenses não tem a mínima ideia. Nem sabe também que na cidade de Maracaju, no Estado do Mato Grosso do Sul, tem uma avenida com o nome de Dracena. Mas por que essa troca de gentilezas?

A história nos remete ao ano de 1.965, quando alunos do antigo Instituto de Educação Engº Isac Pereira Garcez, através do Gremio Estudantil Castro Alves – GECA – fizeram uma excursão esportiva a cidades do Mato Grosso (hoje do Sul) até a Pedro Juan Caballero/Ponta Porã. Na volta, pararam na cidade de Maracaju, a pedido do pároco da cidade, que pretendia recepcionar os dracenenses em excursão. No domingo, dia 7 de Fevereiro, foi marcado um churrasco para confraternização entre os moradores da cidade e os dracenenses, mas ocorreu um acidente, e a caminhonete capotou antes de chegarem à fazenda. Todos que estavam na carroceria foram lançados contra o chão. Salvador Duarte Peres, o Magu acabou falecendo. Os moradores de Maracaju, apesar das dificuldades, não pouparam esforços para transportar os feridos de avião até Campo Grande, e o corpo de Magu, também de avião, até Dracena. Muitos moradores colocaram seus veículos à disposição para trazerem até Dracena o restante da delegação, que chegou a tempo de participar do sepultamento. O padre fez um discurso comovente, falando em fatalidade, mas demonstrando que a fraternidade nessas horas era o bálsamo que dispunham para aliviar um pouco as dores da comunidade dracenense.

Em homenagem ao tratamento recebido do povo e autoridades de Maracaju, foi proposto pelo vereador José Alfredo Alonso (que estava presente no local do acidente) a denominação de parte da Rua XV de Novembro, como Rua Maracaju.

Na cidade de Maracaju, idêntica homenagem foi prestada aos estudantes do antigo Instituto de Educação, e uma avenida leva o nome de Dracena.

 

Episódio trágico marca cidades distantes

 

Exatamente no dia sete de Fevereiro de 1.965, uma caminhonete lotada com dracenenses capotou numa estrada rural de Maracaju. Estavam no veículo os dracenenses Fuad Zacarias e Plinio Salles Fabro (cabine) e, na carroceria, sentados em bancos improvisados, Guarim Gonçalves Jr. (irmão de Edil Gonçalves, que alguns anos depois seria uma das vítimas do incêndio do Edificio Joelma, em São Paulo), Ibero Lopes Vasques, Vagner Jose de Oliveira Flora,  o professor Jose Alfredo Alonso e Tibagi (amigo dos alunos) que acompanhava a delegação  como convidado e Salvador Duarte Peres (Magu).

Todos que estavam na carroceria tiveram ferimentos, Fuad Zacarias que era o presidente do GECA, foi um dos que mais sofreu com o acidente, ficando esmagado na janela do veículo. Magu faleceu no hospital da cidade.

Todos que sofreram ferimento foram levados para hospital de Campo Grande. O corpo de Magu foi trazido para Dracena de avião, acompanhado pelo professor José Alfredo Alonso.

A notícia que chegou a Dracena por rádios amadores, estourou como uma bomba, interrompendo um jogo de futebol do Dracena FC no Irio Spinardi. As notícias desencontradas falavam em muitas mortes num acidente “de trem”, pois a excursão estava acontecendo através da utilização de trens da Noroeste do Brasil. A confusão demorou para ser desfeita, mas ainda na tarde noite do domingo de 7 de Fevereiro, a versão final foi devidamente esclarecida com a chegada a Dracena do professor Alfredinho, no aeroporto de Dracena.

A parte da delegação que não esteve envolvida no acidente, foi trazida para Dracena por meio de veículos com tração nas quatro rodas, uma vez que a estrada que ligava Maracaju a Dracena (com passagem só em Osvaldo Cruz) estava em construção, e em meio a um lamaçal terrível. A viagem demorou quase 24 horas, chegando na hora do enterro, que acontecia no cemitério local.

MAGU – A morte de Magu, provocou uma reação inusitada em meio à população dracenense. Pelo fato de ter sido o único dracenense que confessou e comungou no dia fatídico, pelo fato de ser bom filho, bom amigo, bom companheiro e coincidentemente não estar relacionado na primeira lista dos que participariam da excursão, aliado ao fato de ter sido o único a levar terno, camisa social e gravata para  a viagem pelo interior do Mato Grosso e não ter usado em nenhum momento, a não ser na viagem de volta, pronto para o velório, criou-se em torno dele uma expectativa que estava nascendo um santo.

E chegaram até a comentar que milagres estariam acontecendo. Pessoas que visitavam seu túmulo, recolhiam um líquido avermelhado que brotava da lápide e tomavam em gotas, para diversos tipos de doença, e diziam se sentir curadas.

O pai de Magu, José Garcia Duarte, preocupado com a origem daquele líquido, determinou que fosse pesquisado e descobriu que, por ser época de verão com muita chuva, um adereço do túmulo, em forma de tubos de órgão de igreja, por serem vasados, permitiam que pingos de chuva caíssem dentro e limpassem a ferrugem dos canos, e quando saiam pelos vãos das pedras de granito, vinham tintos como sangue.

Foi preciso que os padres da Matriz em várias oportunidades fizessem sermão nas missas para esclarecer que não havia milagre algum, mas era apenas água suja de ferrugem.

Mesmo assim, passados tantos anos, ainda hoje quando se visita o túmulo da família, logo na entrada do cemitério de Dracena, ainda se percebe que alguém, quase todos os dias, deixa uma folha nova atrás da foto do ex aluno dracenense.

 

 

Fonte: colaborou José Narciso, Jornal Interativo da cidade de Dracena – SP