Estudos apontam cautela na antecipação da semeadura da soja

Representantes de várias instituições ligadas à pesquisa, ao ensino e ao setor produtivo de Mato Grosso do Sul participaram de uma Reunião Técnica com pesquisadores na Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS) na semana passada. A pauta do encontro foram os estudos realizados sobre as consequências da semeadura antecipada da soja para setembro na região sul de Mato Grosso do Sul.

“Formamos um grupo de trabalho, com várias instituições de Mato Grosso do Sul, que possuem objetivos comuns. Esse é um ambiente propício para desenvolvermos atividades em benefício dos produtores dessa região”, diz o chefe geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Guilherme Lafourcade Asmus.

Recentemente, em 11 de julho, o Ministério da Agricultura (Mapa) divulgou  o período do zoneamento agrícola de riscos climáticos para a cultura da soja, que permanece a partir de 1º de outubro para safra 2013/2014. Ou seja, segundo o Mapa, o produtor rural que semear a soja antes do período do zoneamento agrícola, sofrerá algumas consequências, entre elas o não acesso a algumas políticas agrícolas, como o seguro da lavoura e o Programa Agricultura de Baixo Carbono (Programa ABC).

Como a antecipação da semeadura é uma das reivindicações do setor produtivo, pesquisadores da Embrapa Agropecuária Oeste realizaram estudos baseados no balanço hídrico sequencial diário de dados. São cálculos que estimam a umidade do solo a partir de dados históricos de 35 anos da estação meteorológica da Embrapa Agropecuária Oeste. O objetivo foi analisar os valores médios de água disponível no solo em três épocas de semeadura: 15 de setembro, 1º de outubro e 15 de outubro.

Resultados

Durante a apresentação dos estudos, o pesquisador Carlos Ricardo Fietz explicou que a análise foi realizada com cultivares de soja de ciclo semiprecoce, as mais utilizadas na região sul de Mato Grosso do Sul.

De acordo com as pesquisas, “a disponibilidade de água no solo da região na semeadura em 15 de setembro não apresentou diferença estatística em relação a 1º de outubro, mas foi inferior a 15 de outubro”, diz a Circular Técnica 22, escrita pelos pesquisadores Carlos Ricardo Fietz, Rodrigo Arroyo Garcia, Éder Comunello e Danilton Luiz Flumignan.

Seguindo o que o Zoneamento Agrícola preconiza, que leva em consideração os parâmetros de clima, solo e de ciclos de cultivares, os resultados dos estudos demonstram que o cultivo da soja na região sul de Mato Grosso do Sul é considerado de risco, inclusive em semeaduras realizadas em períodos recomendados pelo zoneamento agrícola, “devido à ocorrência frequente de veranicos e estiagens”, apontou Fietz.

Além disso, os tipos de solos argilosos predominantes da região, com características de arenosos, armazenam pouca água, e agravam ainda mais a situação. Por isso, o que a pesquisa preconiza é que o produtor sempre adote práticas que reduzam os riscos de deficiência hídrica, como a semeadura no período recomendado pelo zoneamento agrícola e o uso do Sistema Plantio Direto na palha. “São atitudes que podem reduzir os índices, mas somente com o uso da irrigação a deficiência hídrica poderá ser plenamente evitada. Portanto, a irrigação da soja é tecnicamente viável na região sul de Mato Grosso do Sul, mas somente em caráter complementar”, enfatizou Fietz.

A conclusão dos estudos também mostram que “em condições de sequeiro, a semeadura de soja em setembro, época que geralmente há menor disponibilidade hídrica, deve ser realizada com muita cautela e somente quando os solos estiverem com condições satisfatórias de umidade”. Não esquecendo a recomendação do zoneamento agrícola.

Novas discussões

A partir dessa reunião Técnica, os participantes pretendem se reunir novamente para novas discussões sobre esse tema. Na opinião do presidente da Fundação MS, Luis Alberto Moraes Novaes, as pesquisas dão subsídios para que políticas públicas e zoneamentos agrícolas tenham embasamento técnico. “Precisamos criar essas redes de contribuição e usar as potencialidades de cada instituição para continuar contribuindo com o trabalho que a Embrapa faz, assim como outras instituições que podem gerar essa cooperação”, disse.

Para o chefe geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Guilherme Lafourcade Asmus, o resultado dessa reunião superou as expectativas. “Debater um tema importante como o da antecipação da semeadura da soja com um grupo de instituições parceiras, diretamente ligadas ao assunto e que podem colaborar de forma coletiva, é uma forma de tornar nossa agricultura cada vez mais eficiente”.

Participaram da reunião representantes das seguintes instituições: Agraer Regional de Dourados, Coamo (regionais de Caarapó, Dourados e Laguna Carapã), Cooperativa LAR, Copacentro, Copasul, Coperplan – Rio Brilhante,  Embrapa Agropecuária Oeste, Famasul/Aprosoja, Fundação MS, Grupo Plantio na Palha de Dourados, Seprotur/MS e SFA/MS.