Em meio à crise, Grã-Bretanha reduz homicídios 'pela metade'

Uma pesquisa feita pela ONG internacional Institute for Economics and Peace (IEP) indica que, mesmo com a crise econômica dos últimos anos na Grã-Bretanha – que fez aumentar o índice de desemprego e gerou cortes nos benefícios sociais -, os índices de criminalidade caíram no país de forma significativa, especialmente os de homicídios, que caíram praticamente pela metade desde 2003.

A pesquisa, embora indique uma relação entre extrema pobreza e violência, também sugere que, em meio a uma crise econômica, outros fatores podem compensar a deterioração das condições de vida da população, contribuindo para uma inesperada melhoria na área de segurança.

Nos últimos dez anos, segundo o IEP, o número de homicídios no Reino Unido caiu de 1,99 por 100 mil habitantes (em 2003) para um por 100 mil em 2012. O índice de homicídios atual seria o mais baixo já registrado no pais desde 1978.

Em relação à taxa geral de crimes violentos na Grã-Bretanha, o estudo revelou uma queda de 1.255 por 100 mil habitantes (em 2003) para 933 por 100 mil (em 2012).

E o que é mais curioso: tais quedas foram registradas em meio a uma redução de 6% no número de policiais por 100 mil habitantes – que ocorreu em parte em função dos cortes orçamentários motivados pela crise.

A queda nos índices de violência na Grã-Bretanha seria a maior da Europa Ocidental – embora o relatório também tenha registrado reduções nos índices de violência na maior parte dos países desenvolvidos.

Londres
Segundo o presidente do IEP, Steve Killelea, haveria várias razões para a queda nos índices de violência britânicos em meio à crise.

Uma delas seria a incorporação de técnicas mais avançadas de investigação e prevenção de crimes pela polícia.

Outros fatores importantes seriam o envelhecimento da população, a diminuição do consumo de álcool e, finalmente, um aumento dos salários reais.

Para Ian Blair, ex-chefe da polícia de Londres, a queda também teria sido influenciada pela “mudança na forma como a sociedade vê e abomina a violência” em países desenvolvidos.

De um modo geral, em Londres os índices de criminalidade caíram de forma acentuada nos últimos dez anos – e são menores que os de cidades como Nova York, Amsterdam, Bruxelas e Praga.

Mas o estudo também apontou a existência de zonas particularmente vulneráveis na capital britânica.

Na realidade, 17 das áreas mais violentas do Reino Unido são bairros londrinos nos quais há “bolsões” de extrema pobreza.

Tal dado, combinado com o fato de que algumas das áreas mais seguras do país são regiões ricas do Sul e Leste da Inglaterra, confirmaria a tese que liga a extrema pobreza à violência, segundo pesquisadores do IEP.

“Isso sugere que maior ênfase deve ser dada a programas que combatem a pobreza, promovendo o acesso à educação e às oportunidades econômicas”, acredita Killelea.

Procedência dos dados
Apesar de cidades como Glasgow, na Escócia, chegarem a registrar o dobro da média nacional de homicídios, 80% das 343 áreas municipais britânicas avaliadas pelo IEP tiveram uma melhoria de pelo menos 10% em seus índices de criminalidade na última década.

O estudo cruzou dados do Ministério do Interior britânico com informações de outras procedências, como dados de internações hospitalares depois de incidentes violentos.

Outra pesquisa, da Universidade de Cardiff, por exemplo, indica que o número dessas internações caiu 14% só em 2012.

“Essas verificações cruzadas mostram que a queda dramática (nos índices de violência) não são resultado de uma falha no relatório da polícia. O Reino Unido realmente está se tornando mais pacífico”, defende o relatório do IEP.