Associações de caminhoneiros dizem não colaborar com bloqueios

Associações ligadas aos caminhoneiros ouvidas pelo G1 dizem ser contra as manifestações que têm bloqueado rodovias no país desde o início da semana. As entidades consideram a pauta de reivindicações mais favorável às empresas que aos caminhoneiros, mas afirmam, no entanto, não ter conhecimento do envolvimento do setor patronal nos protestos.

Nesta quarta-feira (3), o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou que a Polícia Federal abra inquérito policial em razão das suspeitas de locaute nos bloqueios das estradas em diversos estados. O locaute consiste em manifestação provocada pelo setor empresarial.

“Parece que a pauta do protesto convocado pelo Movimento União Brasil Caminhoneiro está travestida para apoiar um projeto de lei que interessa bem mais aos empresários do que aos caminhoneiros autônomos, como o retorno da carta frete e a extinção do tempo limite de direção”, afirma Cleverson Kaimoto, diretor da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA).

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes (CNTT), entidade ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), também afirma não concordar com o movimento encabeçado pelo Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC). “O povo brasileiro está assistindo a mais um movimento organizado por pseudos representantes de caminhoneiros”, declara a entidade, em nota.

A MUBC informa que o presidente, Nélio Botelho, está reunido com autoridades discutindo a pauta da categoria e que só ele pode se manifestar. O G1, que tentou contato com Botelho via celular e também deixou recado, aguarda posicionamento do movimento sobre os protestos.

O site oficial do MUBC tem a convocação para que caminhoneiros apoiem as reinvindicações com uma paralisação de 72 horas que iniciou na segunda-feira (1) e deve durar até as 6h de quinta-feira (4). Os objetivos da entidade são, principalmente, a redução do preço do diesel e dos pedágios e a aprovação de um projeto de lei que altera a 12619/12 (Lei do Motorista), definindo, entre outras coisas, o cartão frete e mudanças no horário de trabalho da categoria.

Outra organização de caminhoneiros do país, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) também diz não colaborar com as paralisações em rodovias. “De forma nenhuma somos contra reivindicações justas, mas isso tem de ser feito parado em casa, sem badernas”, afirma Claudinei Natal Pelegrini, presidente da Abcam.

Divergências
Entre as associações existem divergências sobre as origens dos protestos. “Esse movimento é dos autônomos, que estão reclamando seus direitos. Se tiver patrão envolvido no meio pede totalmente o foco dos protestos. Pelo que eu saiba, não tem patrão envolvido. Mas como as greves se estendem pelo país inteiro não dá para saber exatamente quem está envolvido em cada um dos estados”, explica Benedito Pantalhão, presidente da Antrac.

Sem trabalhar desde o dia 26, o caminhoneiro autônomo Claudinei Oliveira diz ter organizado manifestações com colegas, sem a intervenção de lideranças. “Marcamos por redes sociais”, diz Oliveira, que participou da paralisação da Rodovia Castello Branco, em São Paulo. “Eles não nos representam (o MUBC). Nunca lutaram pela classe, mas se vier para somar, tudo bem”, afirma o autônomo, que não é ligado a nenhuma associação.

Reivindicações
Entre as solicitações feitas nos protestos estão a diminuição ou isenção de pedágios, além da redução do preço do diesel. No entanto, existem também reivindicações específicas para cada estado e cidade. “O pedágio poderia ser liberado das 22h às 4h, ou ter metade do preço, em São Paulo, assim resolveria o problema do trânsito”, diz o caminhoneiro autônomo Claudinei Oliveira.

Para a Antrac, também é necessário isenções nos pedágios. “Que o terceiro eixo continue sem pagar, porque não está consumindo asfalto. O governador de São Paulo resolveu suspender o aumento do pedágio, mas quer cobrar o terceiro eixo suspenso também. Somos contrários a essa cobrança”, diz o presidente da entidade, Benedito Pantalhão.

Para a Abcam, algumas das propostas não são favoráveis aos caminhoneiros. “A isenção da tarifa do pedágio só interessa ao transportador”, diz Claudinei Pelegrini, presidente da organização.

“Estamos em constantes conversas com o governo. É preciso pegar as leis que existem e fazerem acontecer. Por lei, o pedágio tem de ser pago pela transportadora ou embarcadora”, acrescenta Pelegrini.

A divergência de propostas também é compartilhada pela CNTA. “Não estamos participando efetivamente das manifestações. Estamos reunidos com o governo para analisar nossas propostas, pois não concordamos com as reivindicações do movimento que convocou para os protestos, são diferentes das nossas”, afirma Cleverson Kaimoto, da CNTA.

 

G1