Além dos R$ 300 milhões: como o Corinthians pretende turbinar ganhos com naming rights

Superintendente de marketing do Timão fala de possível patrocínio e outros projetos

venda dos naming rights da Arena para a empresa Neo Química dará uma importante injeção de dinheiro ao Corinthians, que utilizará os R$ 300 milhões recebidos ao longo do contrato de 20 anos para pagar parte da dívida da construção do estádio. Porém, o clube está de olho em outras receitas para “turbinar” a parceria.

E isso não tem a ver apenas com a negociação para a companhia também patrocinar a camisa alvinegra.

Com a definição do nome da Arena, que estava pendente desde a inauguração dela, em 2014, o Corinthians planeja desenvolver mais produtos licenciados de sua casa, como camisas, bonés, chaveiros, maquetes e outros souveniers.

Além disso, o Timão pode receber participação em produtos vendidos pela empresa dentro da Arena.

– Temos uma possibilidade no contrato de instalar pontos comerciais na Arena em dias de jogos ou não. Por exemplo: podemos instalar “vending machines”, máquinas com produtos da Neo Química que não precisam ser vendidos em farmácias, como adoçantes – explicou o superintendente de marketing do Corinthians, Caio Campos.

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Isso não engloba, porém, a farmácia que será instalada no setor Oeste da Arena. O Corinthians não terá direito a um percentual do faturamento da loja.

Nesta entrevista exclusiva ao ge, Caio Campos fala sobre como ativar a parceria, conta bastidores da negociação e adianta o que a Fiel torcida pode esperar daqui para frente. Confira:

Desde quando vocês vinham mantendo as negociações pela venda dos naming rights? Foi mantido sigilo por muito tempo ou foi um acordo rápido?
– Para um contrato desse tamanho, até que foi uma negociação rápida. Ela levou quatro ou cinco meses. Faz um tempo já que a gente vem conversando. É uma negociação complexa, cheia de detalhes, cláusulas importantes…

Foi preciso correr para anunciar no dia do aniversário do clube? Porque vimos que o Instagram da Arena e da própria Hypera nem sequer tinham postado nada sobre o tema nas primeiras horas após o anúncio.
– Não é que a gente correu muito, é que são muitos detalhes do contrato. Perguntaram por que não foi feito site, isso e aquilo, mas isso envolveria mais gente no processo. Não queríamos deixar a negociação vazar, pensávamos em preservar o nome do parceiro. Só as diretorias estavam sabendo. Uma vez que começasse um planejamento de marca, perderíamos a estratégia de lançamento. Para um negócio como esse, acho que até conseguimos segurar bem.

Como foi possível fechar um negócio desse porte num momento de crise?
– Esse é o maior contrato que fechei no clube, nem na época do Ronaldo a gente firmou algo assim. É na crise que aparecem as oportunidades. Se os mercados estivessem em pleno vapor, talvez teríamos dificuldades de avançar. Quando as empresas precisam pensar fora da caixa, criar outros tipos de impacto ao consumidor, oportunidades são criadas.

A torcida quer saber: onde ficará o novo nome do estádio? Será nas laterais, junto do distintivo do clube?
– Exatamente, eles fizeram uma montagem, vai ser mais ou menos assim. Será no mesmo material que é o distintivo do Corinthians.

Quando isso será instalado?
– Estamos trabalhando para isso. Vamos começar nessa quarta-feira de manhã com os grupos de operação para definir como será a comunicação visual e definir um padrão para as instalações.

Como vai funcionar a farmácia que será montada dentro da Arena?
– Ela será no setor Oeste e ficará aberta todos os dias, com entradas por fora do estádio e, provavelmente, por dentro também. Deve ser de um dos parceiros comerciais da Neo Química, porque eles não podem vender diretamente. Será um espaço grande, bem bacana, não do tamanho da loja oficial do clube, mas de um tamanho bem significativo para uma farmácia.

O Corinthians terá participação nas receitas desse estabelecimento?
– Neste projeto, especificamente, não. Esse espaço o Corinthians cedeu para o dono dos naming rights.

O tema dos shows que poderão ser realizados na Arena está gerando dúvidas em parte da torcida. Por que a mudança de postura? E vale ressaltar que essas eventuais receitas são do clube e não da parceira, certo?
– 100% da receita da operação da Arena e dos shows é do fundo, do Corinthians. Quando você cria shows na Arena, dá mais visibilidade para o patrocinador, para os naming rights. A intenção (ao aceitar eventos no gramado do estádio) é essa.

Mesmo no meio de uma pandemia, com as regras de distanciamento social, vocês já estão vendo algo nesse sentido?
– A Arena sempre foi procurada para isso por grandes empresas de evento, que fazem shows e festivais. Elas sempre nos consultavam, mas a gente não tinha esse “drive”, agora estamos iniciando um trabalho assim. Mas, por conta da pandemia, não estamos nem pensando nisso agora.

Serão lançados produtos em parceria entre Corinthians e Neo Química?
– Eles têm uma série de restrições. A indústria farmacêutica é bem engessada, não é qualquer coisa que se pode fazer junto. Mas tudo o que for receita para os dois, temos interesse de fazer.

– A gente nunca desenvolveu o projeto de licenciamento da Arena Corinthians porque sabíamos que um dia ela teria um nome. Agora é o momento de dar um gás em tudo aquilo que fazemos no Corinthians. Camisa, boné, chaveiro. Sabemos que esse nome não vai mudar em 20 anos e podemos investir nisso.

É possível, então, ganhar mais do que os R$ 300 milhões estabelecidos em contrato?
– Todo grande negócio gera outros grandes negócios. O mais importante disso tudo e que pouco se falou é que a Neo Química já foi nossa parceira no passado, teve uma história no Corinthians, saiu e voltou num outro momento. É importante para mostrar ao mercado que o Corinthians trata bem os seus parceiros. Se tivesse sido ruim, ninguém ia querer voltar, ainda mais num contrato tão longo.

O presidente Andrés Sanchez levantou, em entrevista coletiva, a possibilidade de a Neo Química patrocinar também o clube, estampando sua marca na camisa da equipe. Porém, o uniforme já está bem preenchido. A ideia é firmar um acordo ainda em 2020?
– Não, estamos vendo isso para o futuro.

Andrés Sanchez, Caio Campos e Fábio Trubilhano, dirigentes do Corinthians — Foto: Rodrigo Coca / Ag.Corinthians

Andrés Sanchez, Caio Campos e Fábio Trubilhano, dirigentes do Corinthians — Foto: Rodrigo Coca / Ag.Corinthians

Como vai funcionar o batismo dos setores da Arena?
– É uma decisão da companhia, eles ainda não fizeram essa escolha, não sabemos se eles vão querer fazer campanha com a torcida, se vai ser um direcionamento da empresa…

Vai acontecer um rodízio de marcas ano a ano ou, uma vez definido, os nomes ficarão fixos?
– Não sei te precisar em quanto tempo eles poderão mudar, porque o contrato tem muitas cláusulas, mas pode haver alteração ao longo do contrato, sim.

Na entrevista coletiva de anúncio, foi falado brevemente sobre ações sociais que a empresa realizará na Arena. Você pode explicar isso melhor?
– A companhia já faz algumas ações sociais referentes a exames e consultas para comunidades carentes, é um dos pontos que eles querem implantar lá. Uma ação comum entre o clube e eles é poder levar para as pessoas mais carentes a arena como referência para esporte, exames… de um tratamento para uma comunidade que muitas vezes não tem tanta oportunidade. Eles veem um potencial social bem grande. Essa é a ideia.

Que eventos desse tipo poderiam ser realizados?
– São detalhes muito específicos que eu prefiro que você consulte a Hypera Pharma, porque eu posso falar alguma besteira. A indústria farmacêutica tem muitas regras. Mas de uma forma geral, sabe esses mutirões de exame, por exemplo? É algo nesse sentido.

Há alguma cláusula de renovação automática com a Neo Química após os 20 anos de contrato?
– (Risos). Não vou estar aqui, nem ninguém da Hypera. A gente usa direito de preferência nos contratos, mas renovação automática não há. Está muito longe para falar disso.

Fonte: globoesporte